quarta-feira, 16 de julho de 2014

Centenário da Grande Guerra (I): O 14 de Julho e o lançamento internacional do Centenário


Desfile dos "poilus" em uniforme azul durante a parada militar na Avenida dos Campos Elísios, em 14 de Julho de 2014.
Literalmente, "peludos", era o nome pelo qual a infantaria francesa era conhecida na Primeira Guerra Mundial.


No passado dia 14 sucedeu-se na capital francesa os habituais festejos da Queda da Bastilha. Para além de comemorar os 225 anos do início da Revolução Francesa, este ano a organização trouxe uma novidade temática - assinalar os 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial.  

A partida, pode parecer estranha a ideia de comemorar no mesmo evento o Dia da Bastilha e o Centenário da Grande Guerra. Que sentido haveria em assinalar um acontecimento do século XVIII e outro do século XX na mesma ocasião? A resposta pode ser encontrada no decorrer dos 125 anos que os separaram.

O quatorze juillet, como os franceses o chamam, é o principal feriado secular do país e a sua parada militar sobre os Campos Elísios é a maior e mais antiga da Europa. A origem das comemorações remonta a 14 de Julho de 1790, o primeiro aniversário da revolução, que reuniu no Campo de Marte, em Paris, mais de trezentas mil pessoas. Em meio ao clima fraterno e solene, povo e rei juraram defender e respeitar a Constituição decretada pela Assembleia Nacional. Estava fundada a França como nação.

A Festa da Federação, como então ficou conhecida, tinha como objectivo primário criar um consenso nacional e evitar o processo contra-revolucionário. Ali, dentro de um gigantesco anfiteatro, reunia-se povo, clero e realeza. Neste primeiro 14 de Julho a França ainda não era uma república, a monarquia não foi contestada, a união nacional foi celebrada e a revolução resguardada. Como sabemos, este cenário não perdurou e em 1793 Luís XVI foi levado à guilhotina.

Foi somente em 1880 que a Terceira República tornou oficialmente o 14 de Julho o feriado nacional. O século XIX havia se revelado política e socialmente instável em França. Porém, no final desta centúria, o país continuava a ser uma potência, lançando-se na corrida colonial a todo o gás quanto a segunda revolução industrial permitisse. A República precisava assim de construir um imaginário nacional onde se pudesse assentar o regime.

A 8 de Junho a proposta de lei de Benjamin Raspail, membro da Assembleia que propôs o dia da Bastilha como feriado republicano, foi aprovada. No dia 29 do mesmo mês foi ratificada e a 6 de Julho do mesmo ano, promulgada. As comemorações decorreram através de cerimónias seculares nas escolas, inauguração de estátuas republicanas, badalar de sinos e hastear de bandeiras.

Por sua vez, o nacionalismo francês, humilhado após a derrota frente aos prussianos em 1871, estava agora mais fervilhante e misturava-se com o desejo amargo da revanche. A Marianne, personificação feminina da República, apelava aos cidadãos por um esforço nacional. O exército, personificação viril da República, tinha agora a missão de resgatar aqueles que, na Alsácia e na Lorena, ansiavam por serem salvos.

O século XIX assistiu ao despertar romântico das nações, e, a semelhança da França, as outras potências europeias possuíam igualmente estratégias culturais que apelavam ao nacionalismo exacerbado e ao militarismo agressivo.  Na chamada Belle Époque, o avanço civilizacional, a fé no progresso e a esperança em manter a paz não se sobrepuseram ao desejo de revanche e a apologia a guerra. O momento que todos esperavam, mas que ninguém acreditava vir a acontecer, chegou no verão de 1914. Há cem anos atrás.

Durante a Primeira Guerra Mundial morreram cerca de nove milhões de soldados de Infantaria, Marinha e Força Aérea e calcula-se que tenham morrido cinco milhões de civis.

Na Europa a memória da "guerra que acabaria com as guerras" ainda hoje permanece forte, mesmo já não havendo testemunhas vivas. Assim, este ano, o governo francês mobilizou em simultâneo o arranque das comemorações oficiais do Centenário da Grande Guerra com os festejos do 14 de Julho em Paris. Os representantes de cerca de oitenta países,  aqueles dos quais envolveram-se no conflito com tropas ou trabalhadores, foram convidados a participar simbolicamente na parada militar nos Campos Elísios.

Duas semanas antes do centésimo aniversário da declaração austro-húngara de guerra à Sérvia, a qual deu início a Grande Guerra, desfilaram em Paris representantes de todas as nações envolvidas no conflito. Fizeram-se representar antigas colónias e metrópoles, antigos aliados e inimigos, homens e mulheres, soldados e civis, feridos e mutilados, órfãos e viúvos, sobreviventes e tombados em combate.

Toda esta simbologia pretende entregar uma mensagem universal de paz e amizade, que reflecte os esforços de reconciliação feitos através de um século. 



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Saudações

Fernando P. C.

domingo, 13 de julho de 2014

Valiant Hearts: The Great War. Uma lição de História






















Como sabem, este ano comemora-se o Centenário da Primeira Grande Guerra, 1914-1918, uma guerra que mudou o panorama militar, social e político de toda  a Europa. Seguindo esta premissa decidi experimentar o jogo  Valiant Hearts: The Great War recentemente lançado pela Ubisoft.

E o jogo foi, sem dúvida, uma surpresa bastante agradável.  Seguindo o molde de um tradicional jogo de aventura com puzzles, ele tem uma componente histórica e humanista bastante grande.  No menu inicial começamos a ouvir os primeiro acordes da banda sonora que nos irá acompanhar durante todo o modo história. Uma banda sonora que denuncia o que irá acontecer durante o jogo, em parte devido a sua beleza e ao, mesmo tempo, melancolia.

O jogo é marcado por uma tonalidade cinzenta, as cenas mais coloridas são antes da partida do protagonista para a guerra, mas com o passar dos tempo os castanhos dão lugar aos verdes tóxicos dos fumos, que por sua vez dão lugar ao cinzento, representando o descrédito dos protagonistas na guerra, a mortandade e a destruição que ela trouxe à sua pacata vida.  Podemos entender essa mudança como um auxiliar visual áquilo que se passa no ecrã, essa tonalidade traz uma aura sombria a todo o jogo. Algo compreensível tendo em conta o tema tratado no mesmo.

Em Valiante Hearts controlamos cinco protagonistas: o francês Emile, o seu genro alemão Karl, Freddie, um norte-americano que se alistou no exército francês, Anna, a enfermeira de guerra belga e por fim Walt, o cão de guerra que ajuda os protagonistas humanos ao longo da história.

Quanto a componente histórica do jogo, ela é bem tratada, em parte devido ao trabalho do  grupo de investigadores que trabalham no site Mission Centenaire 14-18. Ao longo do jogo encontramos diversos objectos do dia a dia de cada soldado, cada objecto tem uma pequena descrição da sua utilidade, temos por exemplo objectos do quotidiano como navalhas de barbear, dinheiro de cada país interveniente na guerra e também encontramos as chapas de identificação de utilizada por cada país.

Cada missão tem também uma pequena contextualização histórica relacionada com a mesma. Caso a missão se passe nas trincheiras, o jogo explica o que eram as trincheiras sucintamente. São assim abordados diversos temas, como o caso das trincheiras, dos gases tóxicos ou das condições sub humanas que se viveram durante a guerra.

Valiant Hearts: The Great War é assim um jogo aconselhável a qualquer jogador que goste do género de aventura, também é aliciante para os entusiastas de História, esses encontrarão diversas referências que serão úteis para uma melhor compreensão da Primeira Grande Guerra.

Porém, apesar de ter evitado spoilers ao máximo, deixo aqui o aviso, é um jogo com uma temática bastante forte, aliada a sua tonalidade cinzenta e a uma música ambiente etérea e  melancólica. Contudo, apesar destas serem palavras de aviso, são também palavras de incentivo, pois este é um dos jogos mais magníficos que eu joguei e a sua história deixa qualquer um a pensar naquilo que foi uma guerra que ceifou milhões de vidas e destruiu outras tantas.

Sites úteis para o tema:



Termino assim com um exemplo da banda sonora do jogo:





Saudações Históricas e Bons Jogos

André L.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um Blog a Três Vozes




Somos três mestrandos de História e Património Europeu, Sociedade da Informação e Multimédia. Devido às nossas paixões diversas decidimos criar este blog. Nele encontrarão os mais diversos temas, desde política, jogos, cinema e livros mas, acima de tudo, de História e da sua influência no meio que nos rodeia.

A frequência dos posts será semanal, as opiniões aqui encontradas irão divergir muitas vezes, mas é na diferença que existe a progressão do conhecimento. Desejamos assim que este blog seja enriquecedor para todos os leitores.

Cumprimentos

André L.
André R.
Fernando